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sábado, 26 de março de 2011

Síndrome de Edwards ( trissomia 18)

A trissomia do cromossomo 18 foi descrita pela primeira vez em 1960 pelo professor
John Edwards. Esta corresponde à segunda trissomia mais freqüente nos seres humanos e
sua incidência está estimada em 1: 6000¹,² e 1: 8000³ nascidos vivos.
Os indivíduos portadores da trissomia do 18 têm, entre 90 e 94% dos casos, uma trissomia livre. Em 5 a 10% dos indivíduos acometidos verifica-se mosaicismo. E um número muito inferior de alterações deve-se a trissomias parciais.
A síndrome de Edwards compreende um distúrbio multissistêmico, com fenótipo complexo, que tem como principais características retardo no crescimento fetal, polidrâmnio, sobreposição dos dedos da mão, anormalidades cardíacas e crâneo-faciais.
São essas anomalias que dão a base para o diagnóstico clínico. Para um diagnóstico pré-natal, utiliza-se, para início de investigação, métodos não invasivos, como a ultrassonografia e o screening de marcadores séricos maternos. Entretanto, para a confirmação diagnóstica, o método-padrão ouro é a amniocentese, que propicia uma avaliação adequada do cariótipo fetal. Preconiza-se uma investigação mais aprofundada em gestantes de idade avançada, pois como em todas as trissomias, a incidência aumenta de acordo com a idade materna.
Considerando-se que a síndrome de Edwards é conhecida desde a década de 60 e é vista como uma entidade clínica bem estabelecida, o presente artigo tem como objetivo uma revisão bibliográfica atual a respeito de sua epidemiologia, manifestações clínicas, diagnóstico pré-natal e, principalmente, seus aspectos citogenéticos.



MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS


Mais de 150 anormalidades diferentes já foram descritas em pacientes com a síndrome de Edwards. Algumas podem ser detectadas ainda intra-útero, através de ecografias de controle pré-natal. A detecção de uma anomalia isolada não deve ser considerada como diagnóstico, mas sim como um gatilho para investigação de outras malformações que levem ao diagnóstico. Atenção especial deve ser dada para aqueles achados mais freqüentes na síndrome de Edwards, que serão citados a seguir.


Anormalidade encontradas em mais de 50% dos pacientes:


· Choro fraco; atividade fetal fraca;
· Tempo gestacional alterado (1/3 pré-maturo, 1/3 pós-maturo);
· Polidrâmnio;
· Placenta pequena;
· Artéria umbilical pequena;
· Déficit no crescimento;
· Baixo peso ao nascer (média=2.300g);
· Hipoplasia da musculatura esquelética, do tecido subcutâneo e do tecido adiposo;
· Deficiência mental depois do período neonatal;· Resposta diminuída ao som;


· Crânio-faciais: occipital proeminente; diâmentro bifrontal estreito; pavilhões
auriculares malformados e com implantação baixa; fissuras palpebrais pequenas;
micrognatia; arco do palato curto e microstomia;


· Mãos e pés: mãos cerradas, com sobreposição do 2° dedo sobre o 3° e do 5° sobre
o 4° dedo ; hipoplasia das unhas; hálux curto e freqüentemente dorsifletido; calcâneos proeminentes; e convexidade da planta do pé;


· Tórax: esterno curto com redução no número de centros de ossificação; mamilos
pequenos;


· Abdome: hérnias inguinais ou umbilicais; diástases do músculo reto;


· Pelve: pequena, com limitação da abdução das coxas;


· Pele: hirsutismo leve, principalmente na testa e nas costas;


· Cardíaca: defeito nos septos interventricular e interauricular; persistência do ducto
arterial.


Anormalidades encontradas em 10-50% dos casos:


· Cranio-facial: microcefalia; fontanelas amplas; ptose palpebral; opacificidade da
córnea; fenda labial e/ou palatina;


· Mãos e pés: desvio ulnar ou radial das mãos; polegar hipoplásico ou ausente; pés
em taco de hóquei; eqüinovaro; sindactilia do 2° e 3° pododáctilos;


· Tórax: largo, com ou sem espaçamento dos mamilos;


· Genitália: hipoplasia dos grandes lábios com clitóris proeminente


· Ânus: afunilado ou em posição anormal;


· Cardíaco: valva aórtica bicúspide; nodularidade dos folhetos valvares; estenose da
artéria pulmonar; coarctação da aorta;· Pulmão: malsegmentação ou ausência de segmentação do pulmão direito;
· Diafragma: hipoplasia muscular;


· Abdome: divertículo de Meckel; tecido pancreático e/ou esplênico heterotrópico;
onfalocele; rotação incompleta do cólon;


· Rins: em ferradura, ectópicos; ureteres duplos; hidronefrose; rins policísticos.


Anormalidades em menos de 10% dos casos:


· SNC: paralisia facial; hipoplasia cerebelar; microgiria; defeitos no corpo caloso;
meningo-mielocele;


· Cranio-facial: sela túrcica alongada e rasa; hipertelorismo; catarata; microftalmia;
atresia coanal;
· Mãos: sindactilia dos 3° e 4° dedos; polidactilia; 5° metacarpo curto;


· Esqueleto: aplasia radial; ossificação incompleta da clavícula; hemivértebra,
vértebras fusionadas; pescoço curto; escoliose; anormalidade das costelas; peito
escavado;


· Genitália: hipospadia; escroto bífido; útero bífido; hipoplasia ovariana;


· Cardiovascular: artéria coronária anômala; tetralogia de Fallot; dextrocardia;
proliferação da camada íntima em artérias com aterosclerose e calcificações;


· Abdominal: estenose pilórica; vesícula hipoplásica; ânus imperfurado;


· Renal: tumor de Willms;


· Endócrino: hipoplasia adrenal ou tireóidea;


· Outras: hipoplasia do timo; fístula traqueoesofágica; trombocitopenia6.



CONCLUSÃO


A Trissomia do 18 apresenta-se como uma doença com alta morbidade e elevadíssimo
índice de abortamento e de mortalidade pós-natal. Portanto, a realização do diagnóstico pré-
natal é de grande valia tanto para os pais como para a comunidade científica em geral. O
uso de métodos invasivos para o diagnóstico torna-se inquestionável quando há chances
elevadas de ocorrência de uma síndrome mórbida como a de Edwards.
A detecção prévia dessa aneuplodia agiliza a determinação da conduta a ser estabelecida. A decisão a respeito do manejo deve ser tomada basicamente pelos pais, devidamente orientados pela equipe médica, visto que não há terapêuticas eficazes para a melhora clínica do paciente. O aborto provocado não é permitido pela legislação vigente no Brasil. Entretanto, na maioria dos países de primeiro mundo essa opção deve ser sempre considerada, para evitar maior sofrimento dos pais devido ao contato prolongado com uma criança que apresenta um prognóstico sombrio.
Além da decisão sobre a gestação em andamento, deve-se sempre procurar esclarecer
a etiologia do distúrbio. Esse conhecimento torna-se importante para podermos predizer
qual a possibilidade de o casal gerar um novo descendente trissômico.
Sobre a terapêutica para esse tipo de aberração, ainda não há perspectivas que indiquem um tratamento curativo. Contudo, com o advento de novas técnicas de inseminação artificial, citogenética e biologia molecular, pode-se vir a agir, em um futuro próximo, na prevenção secundária dessa doença. Isso poderá ser feito pela seleção de um zigoto viável, a partir de pais que possuam alto risco de gerar descendentes trissômicos.




REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA http://genetica.ufcspa.edu.br/seminarios%20textos/Edwards.pdf

POSTADO POR: LÚCIO MATOS DE ANDRADE


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